24 setembro, 2008

Novo andamento. Nova etapa

A Rita não parou. A Rita não deixou de viver. O narrador da sua história é que, por preguiça algumas vezes e por outras razões umas outras vezes... deixou de contar a sua sua. A sua que é dela e que apenas a ele pertence. Confusos? Não devem estar muitos a ler e por isso mesmo a situação não incomodará muita gente mas incomoda-me a mim. Incomoda o narrador que, por outras razões e por preguiça, acabou por matar a Rita. Assim se sente Deus - capaz de dar a vida e sentindo poder para a tirar quando por preguiça deixa de puxar os cordéis que permitem a vivência de todo e qualquer ser humano! A Vida de Rita não morreu. A vida de Rita voltará aqui a ser contada nua e crua como ela é!

Um abraço a todos os que se dão ao trabalho de aqui vir. Os outros... abraçarei quando cá vierem visitar a Rita.

02 junho, 2008

Enfim sós...
...chá ou café?



- Desculpa. Não devia ter vindo sem avisar!

Já Addam sentava Rita no sofá quando esta proferia tais palavras! O sofá outra vez! Antes que dissessem o que quer que fosse, Rita pensou como estas cómodas peças de mobiliário era tão importantes na sua vida e como grande parte da sua vida tinha sido passada nestes aconchegados bancos de sala. Quantas vezes tinha sido cama, local de refeições, ponto de encontro com amigos, sala de cinema, centro nacional de calamidade e choro e pranto da sua vida pessoal, caserna... Só lhe faltava ter concebido o seu primeiro filho num sofá! Os pensamentos foram interrompidos quando Addam lhe perguntou:
- Então mas conta-me lá o que estás a fazer por Londres tão cedo. Não esperava ver-te por cá tão cedo, se bem que é sempre um prazer!
Havia malícia no tom de voz de Addam. Rita também achava que era um prazer, mas que agora lhe sabia a fel. Mesmo que rever Addam lhe desse vontade de gritar e dizer que queria passar o resto da vida ao seu lado e que ele iria ser o pai do seu primeiro filho e que queria que ele fosse o pai dos outros se é que os haveria. Rita sorriu. Não disse nada não fosse a boca fugir para onde residia a verdade.
Addam fez aquele ar parvo e perguntou.
-Posso oferecer-te uma taça de café, um chá, uns bolinhos...
Era um homem que morava sozinho mas tinha sempre o apartamento incrivelmente arrumado e tinha sempre a dispensa e o frigorífico cheio. Adorava cozinhar para os amigos e não fosse ele virgem, de signo, a arrumação era um completo desafio e ao mesmo tempo uma obsessão. Rita considerou que atendendo à conversa que iam ter era melhor que tivesse um pouco mais de tempo para se preparar.
Chá por favor. Preto.
Addam sorriu, levantou-se e já quase na porta da cozinha disse:
- Eu sei que é preto, não fosse o teu preferido!
Parvo! Pensou Rita. Quando chegares vais perder a vontade de dizer piadolas!

24 maio, 2008

sem um pingo...

de sangue ou de vergonha!






- Entra fica à vontade. Estou apenas a vestir qualquer coisa. Já me junto a ti.

Enquanto Rita de sentava no confortável sofá da sala, olhou à sua volta e relembrou o sexo que fizeram - mesmo ali - em cima daquele sofá. Enquanto recordava os suspiros que deu. Os orgasmos que teve. Sentiu-se húmida. Suspirou.
- See you. Call me.
Rita não queria acreditar. Era uma voz feminina que vinha do quarto. Ouviu-se um beijo. Saltos altos a bater contra o chão flutuante como que rasgavam o coração a Rita. Uma mulher passava pela sala. Nada disse. Para Rita era como se fosse um plano de um filme, em camera lenta. Ficou branca. Imobilizada pensou que afinal de contas conhecia Addam e que além disso não tinha avisado que viria. Porque tinha Addam que estar acompanhado? Pensou já quase em voz alta! A porta bateu, fechando-se logo atrás da Porca que acabara de sair. O som acordou Rita que se levantou com o som e se dirigiu à porta de saída. Addam ouviu a porta a abrir.
-Rita?
Rita estava já de saída. Exitou. Avançou. A dor era forte de mais para que ali ficasse e enfrentasse Addam. Mesmo sabendo que muito provavelmente não teria coragem de olhar para Addam e dizer-lhe na cara que estava grávida dele, avançou. Fechou a porta. Ouviu instantes depois a porta que se abria. Não olhou para trás. Sabia que era Addam. Não queria que a visse com a teimosa lágrima que tinha insistido em descer pelo rosto em direcção ao pescoço.

- Rita! Pára! O que se passa? Porque partes? Pára!
Disse o último "pára" enquanto lhe jogava a mão ao braço fazendo com que Rita interrompesse a tão desesperada como inesperada fuga!
- Entra. Vamos conversar! Parece que estás a precisar! Sou teu amigo e sabes que faria o que quer que fosse por ti.
Rita estremeceu.
- Não digas o que não podes cumprir!
-Para com isso! Vamos entrar! Detesto quando estás lamechas.
Nisto Addam sorriu e consegui arrancar um sorriso a Rita. Entraram! Estava num ponto sem retorno. Teria que lhe contar. Agora!
- Desculpa. Não devia ter vindo sem avisar!

17 maio, 2008

A hora
que tudo se desvenda



Addam abriu a porta... estava surpreso! Como está Rita por Londres tão cedo? Pensava enquanto a profeta da desgraça subia pelas escadas rumo à porta do seu apartamento! Rita parou a meio do percurso. Respirou fundo. Pensou desistir, voltar para trás, desaparecer... Não o fez. Tinha decidido que seria assim. Que tinha que lhe dizer. Pensou em quantas vezes o Pai lhe tinha dito para que tivesse juízo, que mesmo sabendo ela o que fazia que tivesse cuidado... Porque não te dei ouvidos pai? Pensou Rita já em voz alta enquanto levantava uma das pernas entorpecidas e levava o pé ao degrau seguinte. Estava cada vez mais perto de Addam. Estava cada vez mais perto de desvendar o mistério, o terrível segredo que a tinha atormentado nestas últimas semanas. Passou-lhe tudo pela cabeça. A mãe tinha-a abandonado quando pequena. Quase não se lembrava de como era o rosto. Sabia apenas que muitos lhe diziam que era parecida com ela. Pensou em todas as respostas possíveis e imaginárias que Addam lhe podia dar. Pensou que, como o seu Pai, iria ter que educar o filho sozinha, isto se da sua decisão resultasse um bébé para contar a história. Nenhuma hipótese lhe parecia a acertada. Nenhuma lhe parecia real e mesmo que fosse. Parecia-lhe que nenhuma lhe serviria. Sim. Uma, mas sabia que estava fora de questão para Addam ir viver para Portugal - país do qual apenas conhecia o Algarve. Assumir um filho era um sonho que Rita nunca veria realizado... Mas era a resposta que gostava de ouvir da boca de Addam. A vida já lhe tinha passado toda em revista desde que tinha iniciado a subida. O futuro já o tinha imaginado muitas vezes nas mais diversas versões que este poderia apresentar. Chegou enfim à porta. Estava entreaberta. Com os dedos dobrados bateu na porta suavemente.
- Addam?
- Entra fica à vontade. Estou apenas a vestir qualquer coisa. Já me junto a ti.

15 maio, 2008

Addam
Seria ele o pai?



- Não acredito. Como podes estar grávida?
Rita não respondeu. As lágrimas não paravam agora de correr. Leika atirou tudo o que tinha pegado para o chão. A porta continuava aberta. Como a vida de Rita. Leika acabava de se sentar ao lado da amiga. Abraçou-a e as lágrimas das duas corriam apenas num fio que lhes desenhava o rosto. Durante um tempo nada disseram.
- Tenho que resolver isto. Tem que ser hoje! Mesmo que não saiba o que lhe vou dizer! Tenho que lhe dizer!
- A quem? Quem é o pai?
- Ao Addam!
- Ao Addam??
Rita não respondeu. Leika não disse nada! Sabia perfeitamente que as hipóteses de se comerem era remota e sempre achou que havia a química de uma noite apenas entre o Addam e Rita. Não passaria daí! Leika conhecia os dois e sabia que não queriam mais do que umas horas para matar a fome. Rita sabia o mesmo! Sabia que no dia seguinte se cumprimentariam com um beijo e tudo seria como se nada se tivesse passado! Não estaria nunca preparado para que ao abrir a porta Rita lhe dissesse que ia ser pai!
- Vais dizer ao Addam que ele vai ser pai de um puto fruto de uma queca? Sabes como é o Addam? Ele não quer compromissos!
Rita era incapaz de não lhe dizer nada. Não sabia se ia abortar ou ir para a frente com algo que lhe mudaria toda a vida.
- É agora! vou lá.
Levantou-se, foi à casa de banho para ver como estava! Estava horrível e nessa altura ainda se viu pior. Não ligou. Saiu. Pegou no metro. Saiu na estação adequada. Tocou à campainha. A voz de Addam ouviu-se pelo intercomunicador.
- Desculpa não ter ligado a avisar. Preciso de falar contigo. Agora!

06 maio, 2008

o desespero...
era real!




Chegou ao 246 de crawford street e transferiu as libras certas para o Sr. do Taxi. James. Era assim que se chamava mas que, para o efeito, de nada servia a Rita saber o nome.

James acelerou rua acima enquanto Rita pegava no seu saco de viagem, pequeno, apenas com o necessário para passar duas noites e subia as escadas do prédio de Leika. Leika abriu a porta quando Rita se agarrou ao seu pescoço. Soluçava. Não conseguia falar. Entraram. Sentaram-se no sofá. A porta ficou aberta como que à espera que algo saísse da boca de Rita.
- Para com isso! O que é que se passa?
Rita olhou Leika e quase ofendida limpou as lágrimas. Estava a desabafar depois de quase 3 semanas em que reteve tudo aquilo que se passara em Londres. Três semanas em que não viveu. Existiu. Consumiu oxigénio e pouco mais. Estava com um ar lastimável.
- Estás horrível! O que se passa?
Rita teimava em nada dizer. Apenas lhe apetecia o ombro da amiga que sendo das melhores era a que menos a conhecia, fruto da distância que as separava. Por mais telefonemas que se fizessem. Nunca era igual.
Leika que nunca tivera paciência para dramas dirigiu-se à porta
- ainda aberta - num acesso de fúria pegou na mala, nas chaves de casa e ia sair quando Rita disse entre dentes:
- Estou grávida!

04 maio, 2008

Contra tudo e todos...
Avançou!



Comprou um bilhete de avião. No primeiro que estava disponível. Teve que viajar em primeira, não havia lugar em segunda. Mesmo que soubesse que o suposto conforto proporcionado pelo meio de transporte contrastava com o revolto estado interior. Neste período deixara de fumar. Por mais que o café Ardina ficasse mesmo em frente a sua casa a melancolia impedia-a de descer as escadas para comprar tabaco. Hoje tinha comprado um Marlboro. Reparou que o preço havia subido. Fumou 3 cigarros antes de entrar no avião. Ficou tonta e quase que se lhe turvavam as ideias claras que dia após dia, foi colocando no sítio. As palavras estavam prontas e perfeitamente alinhadas. Estavam apenas à espera da oportunidade ideal para triunfarem. Aproveitou a viagem para reorganizar o que a nicotina tinha tirado do lugar. Chegada ao aeroporto. Desta vez sem o pai. Mesmo assim logo que pode, misturou o seu com o fumo de outros cigarros. Viu-se novamente dentro do taxi:
- To crawford street please!