20 fevereiro, 2008


Era capaz de matar. Tinha saído do avião, acompanhada pelo pai e aguardavam a bagagem na sala destinada para o efeito havia já quase duas horas. Queria ver a cidade, deixar de ouvir o pai a dizer que processava a companhia aérea, respirar Londres e abraçar Leika, a amiga londrina. O Afonso, o pai de Rita calara-se por momentos mas recomeçava agora a morder insultos e comparações com Portugal. "É tudo a mesma corja de incompetentes!. Como pode ser isto possível? Estamos aqui um dia inteiro e nada de malas! Daqui a pouco nem vale a pena sair do aeroporto! A reza continuou. Rita não aguentava mais. Tirou um cigarro e mesmo não sendo permitido fumou-o. Nunca o tinha feito em frente do pai, mesmo que este soubesse à muito que fumava, nunca a tinha visto cair em tentação à sua frente. Admirado calou-se. Rita tinha ido fumar o que restava do cigarro para uma sala cheia de outros inquietos cigarros sugados com fervor. Não destoou. Fumou o cigarro num abrir e fechar de olhos. Voltou para perto do pai que continuava calado e nem se apercebeu do grave delito que tinha cometido. As bagagens começaram a aparecer pela pequena escotilha que separava os viajantes dos trabalhadores. Viram as suas malas. Saíram. Papeis eram acenados no ar com nomes de pessoas. não se demoraram. Encontraram a saída e entraram no taxi à pressa e partiram. To crawford street please!

16 fevereiro, 2008

londres
enfim....



Depois de ver o pai, de o matar com beijos, matando as saudades com eles, pegaram num taxi e foram para o aeroporto... Havia qualquer coisa de diabólico naquele taxista, como aliás há em todos eles. Ninguém é totalmente saudável quando o seu dia-a-dia é percorrer as ruas da capital. Chegados ao aeroporto visitou todas as lojas do complexo. Gostava de compras e os produtos sem taxas eram um convite irresistível. O pai, Sr. advogado, preferiu ficar sentado a ler o NewYork Times. Uns 15 minutos antes da hora de embarque, juntou-se ao pai e entraram pela manga que os levaria ao avião. Procurou o lugar. Estava destinado pela senhora simpática do check-in que ficaria mesmo ao lado de um congénere que detinha um farfalhudo bigode, desenterrado dos anos 80, e o ostentava logo por baixo do nariz generoso. Sentou-se e mesmo que o seu bilhete marcasse o lugar ao lado da janela, esse já estava ocupado com o bigode. Não disse nada, ficou com o lugar disponibilizado pelo usurpador. Levantaram voo. Duas horas depois sobrevoavam Londres. Era isso. Foi isso que fez com que um natural sorriso lhe rasgasse o rosto. O pai olhava-a sem que ela percebesse. Pensou que as surpresas ainda valiam a pena. Parece que a via ao lado da árvore de natal há anos atrás a desembrulhar as bonecas. Havia naquele sorriso qualquer coisa da criança que já não era. Até o olhar estava diferente... Era a cidade. Enfim Londres...


08 fevereiro, 2008

Londres
uns dias antes...

Telefonou a Leika logo que desligou o telefonema que tinha recebido do Pai. Ainda a excitação não tinha passado e por isso deu a notícia à amiga ainda aos berros. ouviram-se gritos de alegria do outro lado. Há mais de um ano que não se viam. Conhecia Leika da altura que tinha feito o doutoramento. Moravam no mesmo apartamento e foi amor à primeira vista. Foi com Leika que tinha tido a sua primeira abordagem as lesbianismo. Faltavam apenas dois dias para se encontrarem e já a ansiedade se apoderava dela. Adorava andar de avião, adorava Londres, estava com saudades do pai e ia vê-lo e ainda ia estar com Leika. Sabia agora que nada lhe ia estragar a semana, nem o chefe, nem as colegas cuscas, nem mesmo o Silva - o cromo da informática da empresa - que arranjava desculpas esfarrapadas para irem tomar café juntos com o objectivo de terem algo mais que uma relação de trabalho. Rita conhecia bem o tipo de abordagem mas, o aparelho nos dentes, os óculos e o cabelo seboso impediam-na de aceitar os convites. Quem é que a podia censurar. Londres... era nisso que pensava. Nada mais lhe interessava neste momento.

05 fevereiro, 2008

o telefonema...
ainda durante o pequeno almoço.



Ali estava ela... A contemplar o mar quando o telefone tocou. Olhou para ele e sorriu. Atendeu. Sabia que seriam boas notícias! O pai chamava-se Afonso, era advogado e apenas tinha tempo para lhe ligar quando tinha realmente boas notícias para ela. Tinha comprado 2 bilhetes para Londres. Um fim-de-semana prolongado entre pai e filha. O plano era que se juntasse a ele em Lisboa e que daí começasse a aventura. Ela adorava o pai e estava cheia de saudades. Não o via há alguns meses. Há fases em que ir a Lisboa se revelava completamente impossível. Aceitou de imediato. Tinha saudades de Londres e desta forma mataria o saudosismo do pai e da cidade. A partida era já no próximo fim-de-semana e pensou que apenas tinha 3 dias para se preparar. Desligou com um sorriso. Ela sabia que o dia lhe ia correr bem. Nunca se enganava quando os raios de sol, a iluminar o Mondrian, a convidavam a levantar.

04 fevereiro, 2008


Levantou-se cedo. Dormiu pouco. Mesmo não tendo descansado o suficiente foi convidada pelos raios de sol que entravam pela persiana de madeira e que batiam na réplica de Mondrian pintada por um dos seus grandes amigos e que a parede alva ostentava com orgulho. Levantou-se. Pensou que o dia tinha que ser diferente e por isso rosolveu vestir uma roupa confortável e sair. Ia tomar o pequeno almoço mesmo no café em frente da sua casa mas o bigode do Sr francisco - nome do proprietário do estabelecimento - não a seduziu. Normalmente a preguiça e a pressa fazia com que o ardina fosse o local de eleição para tomar o pequeno almoço. Nesse dia resolveu que não haveria de ser assim e por isso mesmo foi até à praia. O simpático bar da praia proporcionava-lhe uma vista única sobre o Atlântico. Chegou, sentou-se, pediu a habitual torrada e o sumo de laranja natural, sem açucar. Tomou calmamente o pequeno almoço e deixou-se adormecer de olhos abertos a contemplar o mar. A calma foi apenas interrompida pelo toque do telemóvel. Olhou para o visor e sorriu. Atendeu.

03 fevereiro, 2008



Saiu. Depois de tirar o dia para ela, foi ao bar do costume. Bebeu umas imperiais, falou com os amigos que ali encontrou... era assim que gostava de se juntar aos amigos, sem marcar nada... Falou de tudo e de nada. Eram sempre assim as conversas dos bares. Tirando algumas noites diferentes e hoje não era uma dessas noites. Entoou gargalhadas, ouviu conversas de nada enquanto bebia as suas imperiais. Sairam do bar e foram à discoteca. Apetecia-lhe dançar. Ver pessoas. Beber. Vir para casa acompanhada. Quem sabe o que estas noites reservam. Viu o Rui, o joão, o JP. O Andrade também lá estava e mais uns quantos que, a par com estes, eram todos eles a personificação de histórias de noites mais ou menos suadas. Percebeu que poderia vir para casa com qualquer um deles. Não quiz. Faltava algo. Alguém que a amasse e não a quisesse apenas pelo corpo ou pelo que representava em noites de copos. Veio para casa. Sozinha. Deitou-se mesmo sem desmaquilhar o rosto. olhou para o tecto e antes de apagar a luz pensou. Serão eles todos iguais? Adormeceu pouco depois.

02 fevereiro, 2008

olá a todos! O que é isto?

Aqui continua uma saga que começou como teste em barracromológica... A Vida de Rita é a vida de alguém contada por um narrador omnisciente, não tem preocupações ou pretenciosismos de qualquer espécie. Pretende apenas ser um canto real de irreais situações, formas de estar. A vida de Rita é o que se segue...